Das pessoas e as caixas...
"Sofro por causa do meu espírito de colecionador-arqueólogo. Quero pôr o bonito numa caixa com chave para abrir de vez em quando e olhar." (Adélia Prado) Somos como aquelas caixas, objetos que usamos para guardar coisas; compartimentados, separados por categorias distintas. Em algum lugar situam-se as boas lembranças; suspeito que fiquem na superfície, pra facilitar o acesso: pessoas que passaram por nós e suas marcas, mais fixas e permanentes do que pegadas na areia e tatuagens; cheiros que insistem em voltar, mesmo quando o frasco do perfume esvaziou; imagens que são projetadas a cada exaustivamente quando a memória aperta o play; sons que fazem a playlist da sua vida; sabores como o inconfundível bolo de laranja e o segredo tumular do tempero que ela colocava no bife acebolado. O que fazemos com as lembranças ruins? Depende de cada caixa. Algumas preferem se amontoar de rancores, dissabores, melancolias. Quando abrimos essas caixas, sentimentos u...