Das pessoas e as caixas...
"Sofro por causa do meu espírito de colecionador-arqueólogo.
Quero pôr o bonito numa caixa com chave
para abrir de vez em quando e olhar."
(Adélia Prado)
Somos como aquelas caixas, objetos que usamos para guardar coisas; compartimentados, separados por categorias distintas. Em algum lugar situam-se as boas lembranças; suspeito que fiquem na superfície, pra facilitar o acesso: pessoas que passaram por nós e suas marcas, mais fixas e permanentes do que pegadas na areia e tatuagens; cheiros que insistem em voltar, mesmo quando o frasco do perfume esvaziou; imagens que são projetadas a cada exaustivamente quando a memória aperta o play; sons que fazem a playlist da sua vida; sabores como o inconfundível bolo de laranja e o segredo tumular do tempero que ela colocava no bife acebolado.
O que fazemos com as lembranças ruins? Depende de cada caixa. Algumas preferem se amontoar de rancores, dissabores, melancolias. Quando abrimos essas caixas, sentimentos uma enorme inclinação de limpá-la, livrá-la desse peso desnecessário. Há também as caixas lacradas com voltas e voltas de fitas da resistência e o grande paradoxo é que por fora está escrito em letras garrafais: CUIDADO, FRÁGIL! Essa nos surpreende pelo conteúdo. São admiráveis. Aparentemente resistentes por fora, sensibilidade por dentro.
O tipo de caixa que somos ou poderemos ser depende do que resolvemos fazer com as coisas que guardamos lá... Se boas lembranças, amarre um laço de fita; se ruins desfaça-se, no lixo do esquecimento; se lacradas, se permita revelar a quem gostaria de saber o que tem lá dentro...
*Fonte das imagens: http://vi.sualize.us/popular/
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cheiro, S.