Há um pouco de poesia no ato de dobrar as roupas que saíram do varal

 

William Merritt Chase (1849-1916) Wash Day Back Yard


Há um pouco de poesia no ato de dobrar as roupas que saíram do varal. O processo pode ser rápido se a roupa for dobrada imediatamente, mas, convenhamos, a poesia não teria nem uma rima pobre, que dirá uma rica!


Esse ato precisa acontecer poeticamente em etapas milimetricamente executadas. Separa-se primeiro as roupas especiais, aquelas que usamos aos domingos e são perfeitas para embelezar a ocasião. Os tecidos são nobres e geralmente necessitam do calor do ferro de passar para surpreender, como uma rima rica.


Em seguida, temos as roupas que usamos no dia a dia, enquanto fazemos uma atividade corriqueira em casa. Elas costumam ser variadas: camisetas, shorts, saias, vestidos, calças longas ou curtas; se assemelham em aspecto: rasgadas, fora de moda, desgastadas, mas não deixam a desejar tanto quanto uma rima pobre, pois são confortáveis como uma sonoridade redonda que fica repetindo na cabeça um bom tempo.


Outra categoria importante das roupas que tiramos do varal são as de cama. Elas são as responsáveis pela linguagem figurativa do ato, uma vez que embalam os sonhos, nos entregam aos braços de Morfeu e, se a escolha do amaciante for equivocada, não tem metáfora que nos livre do pesadelo!


Não podemos esquecer das toalhas! Ela é parte importante no processo de purificação do que anteriormente estava sujo. Elas embelezam pela sua diversidade de cores, texturas e estampas! Um varal com toalhas diz muito sobre as pessoas que as utilizam: as mulheres preferem as mais macias, os homens não ligam muito para isso e as crianças amam quando têm desenhos de personagens e capuzes divertidos.


Há quem prefira as roupas penduradas por tamanho, por tipo, por cor, por prioridades e até usando um cabide, assim como uma quadrinha, um soneto, um verso livre, um poema concreto. Cada um no seu formato, tamanho e som.


Fiquei a divagar sobre a poesia do ato de tirar roupas do varal por tanto tempo que a máquina terminou de concluir mais uma lavagem. O ciclo da vida se repete na velocidade da centrifugação do nosso cotidiano poético.


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