O que passou a ser. Em transformação...


Habito os dez mil e quinhentos universos

sugeridos pela física quântica

satisfeita de ser

tantas em tantos

                           (Diva Cunha)



1º Universo,o das bobices.


Era uma vez ela, uma menina. Há tanto tempo esperada; a torre do castelo já tinha espaço para abrigar seus devaneios infantis, cercada de afeto, mimos, cuidados. Seus pequenos prazeres: canções lilases, longas conversas com objetos disfarçados de brinquedos e quitutes da avó. Ela, a menina, era capaz de montar quebra – cabeça com nuvens, mas tinha medo do escuro. Pra isso achou uma solução: descobriu que poderia morar num livro.

Seu primeiro e grande amor foi um livro. Toda semana aguardava ansiosamente pelo encontro com o seu amado. Sentia todos os sintomas de paixonite. Frio na barriga. Ria do vento. Sentia saudade, mesmo estando perto. Abraçava forte. Gostava do cheiro. Com ele, só com ele ela era muitas numa só: a mocinha, a princesa, a fada.  Nunca criou histórias, pois se contentava com as que lhe contavam.

Gostava de observar, quieta. Brincou de boneca, atuou com elas, fez de conta. Subia no pé de seriguela, comia as frutinhas até doer os dentes. E assim, de esconde-esconde em esconde-esconde aproveitou ao máximo as bobices.



Eu só não queria significar. Porque significar limita a imaginação. (Manoel de Barros)



2º Universo, o das definições.



A moça, outrora menina, saiu das coisas próprias de criança.Começou a viver. Timidamente. Sem correr muitos riscos, pra não machucar. Seus pequenos prazeres agora são: música -sem rotulações-, densas leituras, filmes que poucos aplaudem de pé, raros (e poucos) amigos, pouca satisfação com muita coisa. Uma idosa de quarto de século, por vezes incompreendida, outras nem tanto.
Até que...

Apertou o play, fechou os olhos e se jogou, sem garantias. Com medo, muito medo. Quebrou a cara; juntou os pedaços a seu tempo, sozinha, lentamente e vivendo, descobriu: que a mágoa é mais amarga que jiló; escolher errado é como tatuagem arrependida: difícil de tirar e geralmente deixa marcas. Fruta madura tem que ser tirada do pé, isso dói, mas é proveitoso.Nas palavras de Guimarães Rosa, viver é perigoso, é etcétera.



  Mudei muito, e não preciso que acreditem na minha mudança para que eu tenha mudado. (Caio Fernando Abreu)





3º Universo, o das aspirações.



Fingir que o amanhã ainda não chegou. Retomar caminhos, repensar outros. Descobrir outros pequenos prazeres.



"Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo." (Caio Fernando Abreu)



4º Universo (em transformação)











Comentários

Mauro Castro disse…
Li muito Caio Fernando Abreu...pra viajar no cosmo não precisa gasolina.
Há braços!!
Cris Carvalho disse…
lindeza, esse texto é meu e não do Caio e tá lá no blog Sensibilidade de flor ... http://sensibilidade-de-flor.blogspot.com/2011_06_01_archive.html beijo

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